Marcas.


Esses dias entrei no ônibus e o guarda corpo na frente do meu banco estava pichado. Desde então passei a reparar em ônibus, muros, pontos de ônibus e placas que estão pichados ao longo dos caminhos por onde passo. 
Ao olhar essas marcas, percebi quão profunda é a necessidade humana de deixar uma marca no mundo. Queremos desesperadamente ser relevantes, ser lembrados, provar que existimos, que passamos por aqui. Todos nós temos essa necessidade em algum nível, de saber que a nossa vida significou algo. Para alguns, saber que sua vida deixa marcas naqueles que vivem por perto já é suficiente. Para outros, é necessário o sucesso estrondoso da fama, mesmo que para isso se viva uma mentira.
É por isso que a gente escreve, compõe, cria, desenha, pinta, esculpe, picha, rabisca, publica, fotografa, encena, dramatiza, conta e inventa. É por isso que produzimos arte, beleza, história, cinema, literatura e outras coisas.
O desejo de deixar algo que mostra que existimos, de buscar relevância é muito diferente de buscar fama. Nem todo mundo quer fama, mas todo mundo quer compartilhar algo com o mundo, algo que mostre para o futuro que, no aqui e agora, nós existimos. 
Talvez todas essas expressões sejam, em sua maioria, o jeito de inúmeros anônimos, que permanecerão anônimos, deixem uma prova de sua existência. Um grito silencioso que prova que existimos, que temos ideias, que somos uma multidão de talentos ocultos e que talvez nunca sejam descobertos, mas que existem e estão aqui. 
É por essa busca de deixar uma marca que revele nossa existência que a humanidade produziu sua história, por isso sabemos como foi a vida para aqueles que vieram antes de nós, é por isso que aqueles que vieram depois de nós saberão como vivemos. 
A Bíblia tem uma frase “uma geração contará a outra geração”. Esse é um bom resumo da história humana, uma sucessão de gerações contando a outras gerações como viveram, geração após geração aprendendo com o passado aquilo que vale a pena repetir e o que precisa ser mudado. 
Uma história contínua gerada por tantas milhões de histórias contadas de forma simples todos os dias, de pequenas marcas a outras gigantescas a ponto de destruir nosso planeta e determinar nosso futuro. Tudo isso me fez pensar que estamos deixando algo para as gerações do futuro. Será que estamos deixando algo que vale a pena lembrar e contar? Será que deixaremos uma vida que vale a pena viver? 

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