Esquecer e lembrar.


Passei a semana toda com a cabeça ocupada por uma ideia. 
Será que um dia, minha versão mais velha vai olhar pra trás e achar que viveu uma vida que vale a pena lembrar? 
Meus pensamentos, desde então, viajaram pela vida e morte, por escolhas, sonhos e dores e trilhou caminhos de memória, inquietação e esperança.
Pensei em quão pouco nós valorizamos a vida, muito porque nos recusamos a olhar para nossa finitude. 
Deixamos tudo por fazer "na saída" e perdemos o timing da vida, chegamos ao fim sem ter olhado o hoje e escolhido, conscientemente, aproveitar cada momento da vida.
Não estou falando de viver uma vida inconsequente já que vamos todos morrer mesmo. Estou falando sobre a consciência da finitude que nos faz contemplar o pôr do sol, que nos faz parar pra um cafezinho na casa da vó, aproveitar um jogo de futebol com o pai, que nos lembra de não guardar afetos, sonhos, roupas novas, que não nos deixa terceirizar a responsabilidade e nem deixar a alegria pra amanhã.
Essa semana me lembrei que a vida é preciosa e finita. E talvez seja tão preciosa justamente pela sua finitude. 
A vida passa, estamos todos envelhecendo e construindo uma história. Entre nossas alegrias e tristezas, nossas dores e confortos, nossas risadas e lágrimas, nossas perdas e ganhos, nossas escolhas e consequências, estamos vivendo. 
Será que os idosos que seremos poderão olhar para trás satisfeitos? Com contentamento pela vida vivida, com perdão suficiente para si mesmos por aquilo que não foi possível viver ou pelas partes não tão bonitas da nossa história, com gratidão porque se comprometeu e viveu uma vida inteira, apesar dos percalços, dificuldades e perdas.
Ou será que olharmos para trás e tudo o que veremos será o vazio de uma vida que correu o tempo todo pelo nada, pelo vazio, olhar para uma vida que parece ter escapado pelos dedos?
Como areia correndo a ampulheta, será que o fim chegará com a sensação de que a vida esgotou-se sem ser vivida, cuidada, valorizada e protegida.
Ou será que, ao encontrarmos a finitude inevitável, olharemos para trás e veremos infinitude de vida, de afetos, de esperanças, recomeços e ressignificados, de lágrimas e sons de risada, de despedidas e encontros, de amores profundos? 
Será que haverá história que fica, mesmo quando a gente se for?

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