Insensíveis, desumanos e cruéis.
Essa semana um menino foi assassinado.
O nome dele era Thiago, tinha 13 anos e foi baleado pela polícia na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.
Uma criança, saindo da infância a caminho da adolescência, cheio de sonhos e esperança pro futuro, foi morto sem motivo. Morreu pelo despreparo, pelo racismo, por "erros" que se repetem sempre com aqueles que se parecem com Thiago.
Essa semana, mais uma criança estava na mira da arma de alguém que não devia estar em serviço, afinal, se você atira pra matar um menino de 13 anos, você não está preparado para a sua função. Há profissões que não permitem erros, ser policial é uma delas, porque na posição de poder e com o instrumento de trabalho utilizado, um erro tem enorme potencial de ser letal. É preciso mudança na polícia e nos seus membros, preparo, treinamento, avaliação, investimento, câmeras durante o desempenho do serviço, porque aqueles que se comprometeram em ser nossos protetores não deveriam se tornar nossos assassinos.
Mas esse não é um texto sobre a polícia. Esse é um texto sobre a nossa indiferença e insensibilidade. A grande maioria de nós passou pela notícia como passou por todas as outras. "Que triste, tão novo" e seguiu a própria vida.
Passamos indiferentes pela morte desse menino, não nos comovemos, refletimos, muito menos nos posicionamos, cobramos mudanças, nos indignamos. Aqueles que ousaram falar e gritar por justiça foram aqueles que são diretamente e diariamente afetados por violências como essas. Aqueles que todos os dias precisam enfrentar uma realidade avassaladora, de medo e sobrevivência.
Quantos "thiagos" nós já vimos passar, quantas vezes vimos a vida valer tão pouco e mesmo assim, seguimos, indiferentes. E a parte mais assombrosa é que a indiferença não é a pior coisa que podemos fazer. Acima do descaso, podemos ser cruéis, inventamos mentiras para justificar o injustificável, para proteger os agressores de pagar pelos seus crimes.
Não nos comovemos, não protestamos, não cobramos respostas ou justiça. Seguimos. No máximo uma publicação nas redes sociais para fingir que nos importamos.
Dizemos defender a infância, mas quando uma criança é assassinada, a única coisa que é revelada é a profundidade da nossa hipocrisia. Quantos defensores da infância se levantaram por Thiago? Quantos se levantarão por todos os "thiagos" que ficaram e, aos prantos, sepultaram aquele menino?
Quantos "thiagos" mais precisam morrer para nos importarmos e fazermos alguma coisa? Quantos pais ainda terão que enterrar os seus filhos até a gente perceber que esse não é um problema dos outros?
São as nossas crianças, o nosso presente, o nosso futuro. Quando vamos, genuinamente, nos levantar por elas?
Indiferentes, desumanos, insensíveis, cruéis. Deixamos de enxergar o outro, suas dores e as mazelas que os assolam. Nos tornamos incapazes de chorar com os que choram, de dividir a dor, de defender e nos movermos pelo próximo.
Essa semana nós provamos, mais uma vez, quão profunda é a nossa falência enquanto humanidade e sociedade.
Nós falhamos com aquele menino, com aquela família, com aquela comunidade. Falhamos com todas as outras crianças que, ainda na infância, estão enterrando um amigo que foi assassinado por quem deveria protegê-lo. A falha é nossa, é coletiva, ainda que não tenhamos sido aquele que puxou o gatilho.
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