Velozes e vazios.

 

Há uns anos vi um autor nos denominar como sociedade do cansaço. Admito que nunca li a obra completa, mas a nomeação me impressiona, porque é cruelmente verdadeira.

Somos uma sociedade veloz, atarefada, que está sempre com pressa, sempre correndo, com uma lista de tarefas impossível de cumprir, com um corpo e uma saúde que não conseguem acompanhar a rotina alucinante que nos inserimos e por isso, adoece.

Estamos constantemente cansados, estafados pela rotina corrida, pelo volume de demandas que parecem nos engolir neste mundo tão dinâmico. Afinal, a gente precisa dar conta do estudo, do trabalho, da família, dos amigos, das redes sociais e da "vida perfeita", dos sonhos, das infindáveis comparações, entre outras tantas coisas. Até porque, vivemos em um mundo que define nosso valor pelo que fazemos e conquistamos, com um monte de gente vendendo uma vida perfeita na internet, ensinando a fazer dinheiro, ser bem sucedido, ter um relacionamento perfeito, ser o próximo milionário. 

O lado feio do que vivemos é justamente o fato de ser uma mentira. O cara que enriqueceu perdeu todo o resto no processo e só sobrou o dinheiro para viver uma vida que ele não tem mais com quem dividir. A blogueira fitness usa edição de fotos, fez cirurgia plástica e tem transtornos alimentares e de autoimagem. O modelo de relacionamento, na vida real, é cheio de ressentimento, violência e traição. Mas na internet tudo é lindo e nos comentários, são as conquistas, seja lá a qual preço, que são valorizadas. Então a gente dá um jeito, e corre desesperado na tentativa de dar conta de tudo e ter uma vida que parece significativa.

E no fim, tudo o que conseguimos é vazio. Corremos tanto para não chegar a lugar nenhum e mesmo quando chegamos onde achávamos que gostaríamos de estar, descobrimos que nos perdemos de nós mesmos no processo e aquilo que parecia tudo se tornou ausência, desinteresse e descontentamento. Corremos para descobrir que aquilo que fez com que a gente passasse por cima dos outros, que nos fez abrir mão do que valia a pena de fato, que nos fez perder quem amamos, que nos fez perder a própria vida, eram apenas sombra e pó. Perdemos sentido, significado, propósito, valores, pessoas e por fim, a própria vida.

Somos velozes, e vazios. Ganhamos o mundo, perdemos a nós mesmos. Encontramos riqueza, perdemos tesouros. Alcançamos o status, perdemos a essência. Conquistamos o corpo, perdemos a alma. Sabem nossos nomes, mas não deixamos nada valoroso, importante ou real depois de nós.

Tudo o que sobrou foi cansaço, vazio, desilusão, mentira e poeira.

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